sexta-feira, 17 de julho de 2015

Plutão é aqui

Foi um feito da engenharia. Decolar um foguete tão rápido que passou pela Lua em poucas horas, e seguiu na mesma velocidade por nove anos até chegar em Plutão, de onde começou a mandar as fotos nesta semana.
Eu entendo a alegria dos engenheiros quando a coisa toda dá certo. Em meu laboratório, comemoramos coisa muito menor, como medir temperaturas a 100 m de distância. Essas coisas tem infinitos modos de dar errado, mas só um de dar certo. Quando funciona a gente se sente espertíssimo, mas qual mesmo a importância?
Suponhamos o cenário fantástico que as tais montanhas de gelo no pólo contém formas de vida espetaculares. E daí? Daí daqui a mil anos ainda iriam falar sobre como isto completou a revolução de Copérnico (a Terra não é o centro do universo) e de Darwin (o homem é somente mais um animal), com a idéia que a vida também não é exclusividade da Terra, mas repito, qual a importância disto?
Nesta semana tive o privilégio de tomar um trem lotado às margens do Pinheiros em São Paulo. As fotos de Plutão mudam a vida daquelas pessoas exatamente em quê? Agora não andam mais de trem?
Há algumas semanas fiz aqui umas contas mostrando que boa parte da agricultura brasileira poderia manter-se só com o Nitrogênio em nossa urina. Tive um enxurrada de respostas dizendo que seria muito complicado, talvez ainda mais que mandar uma câmera fotográfica com um transmissor para Plutão.
Mas uma outra notícia, também desta semana, mostra como uma ONG no Haiti já vendeu 300.000l de composto de fezes e bagaço de cana. Eles têm um pequeno subsídio para coletar as fezes em baldes fechados e levar para dois locais onde a compostagem é processada.
Pouca gente quer se envolver com transporte de cocô quando há alternativas como fotografar Plutão, mas para o bilhão de pessoas sem acesso a sanitários aqui mesmo na Terra, estes dois caminhos são mais que alternativas profissionais; um deles muda a vida das pessoas enquanto o outro é mero circo.

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